Sociedade

GUERRA NA UCRÂNIA: ATUALIZAÇÕES DO CONFLITO – QUARTA SEMANA

A guerra na Ucrânia entra agora na sua quarta semana de duração. Os bombardeamentos praticados pelas forças russas sobre as cidades ucranianas persistem, no entanto, são registados poucos avanços sobre as principais regiões e zonas estratégicas do país. As conversações diplomáticas entre o governo russo e ucraniano procuram um acordo e compromisso que coincida com as exigências incompatíveis entre ambos os lados. O número de refugiados entre a população ucraniana continua a aumentar, ao mesmo tempo que se contabiliza o crescente números de mortos e feridos causados por este conflito.

Atualizações do conflito – Quarta semana:

O vigésimo terceiro dia da invasão russa da Ucrânia é marcado pelo bombardeamento russo à cidade de Lviv, controlado por forças ucranianas. Os danos causados por este ataque já foram contabilizados pelo governador Andriy Sadovy, que comunicou no Telegram a destruição de um número reduzido de estruturas, entre elas um edifício de reparação de aeronaves.

Nos últimos dias, a paralisação generalizada das tropas russas nas frentes de combate reflete-se nos poucos avanços registados sobre as principais cidades e localizações estratégicas do país. Nos arredores de Kiev, as forças ucranianas demonstram conseguir resistir e combater a tentativa russa de cercar a cidade. As cidades de Kharkiv e Mariupol encontram-se igualmente cercadas e bombardeadas.

No nordeste de Kherson, cidade já controlada pelas tropas russas, as forças ucranianas relatam terem combatido com sucesso os ataques e os avanços russos nas restantes localidades da região, contrariando assim a declaração do Ministério de Defesa russo que comunicou o controlo total sobre aquela vasta área. Também no sul, a cidade de Odessa assiste à movimentação dos navios russos localizados nas proximidades da sua costa, sob o receio crescente de um ataque anfíbio na cidade que incorpora o maior porto comercial marítimo do país. No entanto, a ausência de meios militares e do controlo de linhas de comunicação na cidade que consigam suportar este tipo de operação diminuem a sua probabilidade nos próximos dias.

A estagnação da ofensiva russa tem levantado sérias questões sobre a sua capacidade militar e logística, com indícios de graves problemas que têm atrasado e impossibilitado a concretização dos objetivos militares russos.

Recentemente, movimentações de tropas e equipamento militar russo foram registadas a partir da Geórgia, Arménia e no distrito militar russo do leste, para o que tudo indica serem utilizadas como reforços entre as posições russas no território ucraniano.

Contudo, a ausência de avanços práticos no terreno não têm significado o fim de todas as formas de ataque, com o contínuo recurso a bombardeamentos e ataques de artilharia em alvos militares e zonas residenciais ucranianas. A cidade cercada de Mariupol, onde a presença de aproximadamente 350 mil pessoas sem acesso a água, comida e energia gera uma das mais degradantes crises humanitárias do país, tem sido alvo de bombardeamentos em larga escala que atingem a grande maioria das estruturas da cidade. Os bombardeamentos na cidade de Kharkiv, a segunda maior do país, revelam ter o mesmo efeito destrutivo sobre as suas infraestruturas, informou em entrevista o governador da cidade, Ihor Terekhov.

As acusações de crimes de guerra multiplicam-se face a estes ataques que incidem sobre áreas e edifícios residenciais e densamente povoadas. Recentemente, um avião russo bombardeou o Teatro  Regional de Donetsk, na cidade de Mariupol, que segundo fontes ucranianas abrigava a população local afetada pelos ataques. Imagens de satélite demonstram a palavra “crianças” sinalizada no exterior do edifício. Este ataque surge após o bombardeamento anteriormente registado sobre uma maternidade de Mariupol, entre outros edifícios e apartamentos nos quais fontes ucranianas relatam mortes e ferimentos entre os civis.

Como resposta a estas acusações, a representante oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, Maria Zakharova, desmentiu o bombardeamento do teatro, considerando-o como uma mentira. “As forças armadas da Rússia não bombardeiam vilas e cidades”, afirmou a representante do Ministério russo.

Na tentativa de alcançar um acordo entre as exigências estabelecidas por ambas partes, as negociações entre a delegação ucraniana e russa continuam a decorrer, na esperança de um futuro cessar-fogo ou acordo de paz entre ambos os países. A neutralidade do estado ucraniano e a desmilitarização das suas forças armadas continuam a ser as principais exigências do Kremlin, que perduram desde o inicio do conflito, enquanto a Ucrânia procura, acima de tudo, garantias sobre a sua segurança e integridade territorial, com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensk, desmarcando-se da entrada do seu país na NATO.

“Ouvimos durante anos que as portas estavam abertas, mas também ouvimos dizer que não podíamos aderir. Esta é a verdade e temos de a reconhecer”disse o presidente numa videoconferência com a Força Expedicionária Conjunta do Reino Unido.

Crise Humanitária:

A Organização das Nações Unidas anunciou a morte de pelo menos 780 civis e cerca de 1250 feridos resultantes dos 21 dias de conflito armado na Urânia. No relatório divulgado sobre as baixas entre a população civil, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) contabilizou inclusivamente 58 crianças mortas e 68 feridas entre os números publicados. O número real de baixas civis “são consideravelmente mais elevados, especialmente em território controlado pelo Governo”  ucraniano, mais sujeito à ofensiva russa, adiciona a agência da ONU.

O ACNUDH relembra que “a receção de informações de alguns locais onde têm ocorrido hostilidades intensas tem sido adiada e muitos relatórios ainda estão pendentes de corroboração”, destacando as regiões “onde há alegações de centenas de baixas civis”, sendo estas a região de Donetsk, Kharkiv, Lugansk e Sumy.

A situação “incerta” vivida na Ucrânia tem dificultado a atuação da ajuda humanitária que consegue atuar no país. O responsável pela equipa do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Mariupol anunciou a retirada da sua equipa da cidade de Mariupol. “Neste momento, não temos nenhum pessoal no centro de Mariupol, mas temos outra equipa que está a preparar-se para ir quando tivermos passagem segura”, explicou Peter Maurer. Atendendo ao bombardeamento que atingiu o teatro da cidade, Maurer disse que a sua organização não tem uma avaliação independente do que aconteceu e que não pode fazer especulações.

“É claro que temos visto imagens perturbadoras nas últimas duas semanas e é por essa razão que recolhemos informação, para ter uma melhor ideia do que se passa nesta guerra em núcleos urbanos, onde os civis estão a ser atacados tão violentamente”, acrescentou o responsável.

Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) anunciou esta quinta feira que, desdo o inicio do conflito, já foram contabilizados cerca de 3,16 milhões de refugiados ucranianos, entre os quais metade são crianças, e 2 milhões de deslocados dentro do próprio país. O número de pessoas que se viram obrigadas a abandonar as suas casas alcança já os 5,2 milhões. O ACNUR adiantou que, entre o número de refugiados, mais de metade (aproximadamente 1,9 milhões) fugiram para a Polónia. Países como a Roménia, Moldava, Hungria e Eslováquia e Rússia acolhem também o crescente número de centenas de milhares de refugiados.

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Reação Internacional:

As preocupações norte americanas sobre uma possível abertura chinesa ao financiamento e apoio militar russo foram amplamente debatidas ao longo desta última semana. O suposto pedido de ajuda militar do Kremlin à China foi negado pelo porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros  do país, Zhao Lijian, que classificou as notícias sobre o assunto como “desinformação” vinda dos EUA.

“A posição da China em relação ao tema da [guerra na] Ucrânia tem sido consistente e clara e temos desempenhado um papel construtivo na promoção de discussões para se chegar à paz. É imperativo que todas as partes se contenham e diminuam a tensão, em vez de se juntar gasolina ao fogo; é importante que os esforços sejam orientados para uma solução diplomática e não para aumentar a escalada de tensão.”, avançou o porta-voz.

O conselheiro para a Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, comentou e esclareceu a posição dos EUA relativamente à possibilidade destas ajudas. “Estamos a comunicar diretamente e em privado a Beijing que existirão consequências, nomeadamente sanções em grande escala, disse Sullivan à estação CNN.

O governo russo também se pronunciou, negando o pedido de apoio militar à China. Dmitry Peskov, o porta-voz do regime russo, descreveu como falsas as noticias norte americanas, ao mesmo tempo declarando que os objetivos russos no território ucraniano serão alcançados sem a necessidade de apoio de países terceiros, como a China.

As relações diplomáticas entre os EUA e a Rússia apresentam uma progressiva deterioração, à medida que as ameaças entre ambos os lados tornam-se cada vez mais comuns. O secretário adjunto do Conselho de Segurança do país, Dmitry Medvedev, afirmou que “A Rússia tem o poder de colocar os inimigos liderados pelos Estados Unidos no seu lugar”, face ao que a Rússia tem vindo a considerar como “o plano russofóbico do Ocidente” aplicado ao seu país.

Em entrevista á estação russa RT, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Rússia, Serguei Lavrov, acusou o governo norte-americano de querer estabelecer um “saloon americano”, afirmando que a Rússia “não quer quer receber ordens do ‘tio Sam’”.

Relativamente à postura estabelecida pela comunidade internacional que condenou a invasão russa da Ucrânia e estabeleceu uma série de sanções económicas, Lavrov afirmou que “As sanções tornam-nos mais fortes”, e que o seu país tem a capacidade necessária para resistir às sanções aplicadas contra a sua economia.

 

Escrito por Vicente Oliveira Ribeiro.

Revisão por Beatriz Oliveira.