Política

DONALD TRUMP E AS POTÊNCIAS MUNDIAIS

A posição de Donald Trump em relação aos principais países do mundo tem tido avanços e recuos. Trump tem nas suas mãos o poder de tomar decisões que, inevitavelmente, poderão mudar o curso da diplomacia internacional, num mundo cada vez mais fraturado politicamente.

Após uma campanha muito disputada e com uma retórica muito intensa, o milionário conseguiu conquistar um dos lugares mais poderosos do mundo. Muitas vezes polémico, Donald Trump foi deixando indicações daquela que poderá ser a ação externa dos EUA, nomeadamente face às restantes potências globais.

Tendo em conta estes fatores, é importante perceber o que pensa Donald Trump sobre os países que, ao lado dos Estados Unidos da América, completam a montra dos mais poderosos no panorama internacional.

Alemanha

Desde a tomada de posse, Donald Trump já mostrou que não vai facilitar a vida aos alemães. As primeiras declarações foram do diretor do Conselho Nacional de Comércio que, seis dias após a tomada de posse, acusou Berlim de usar a moeda europeia para beneficiar nas transações comerciais, prejudicando os americanos.

As críticas à Alemanha surgiram pelo facto de, pelas palavras de Peter Navarro, o país aproveitar-se da desvalorização do Euro para colocar os seus produtos no mercado internacional com um nível de rentabilidade mais elevado, prejudicando a concorrência.

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Foto: LUSA/Pat Benic/POOL

Outra das polémicas que tem feito apimentar as relações germano-americanas, é a NATO. O presidente dos Estados Unidos disse que a Alemanha possui uma avultada dívida em despesas militares para com a Organização do Tratado do Atlântico Norte e que a mesma tem de ser paga.

Estas afirmações foram proferidas depois do encontro dos dois líderes na Casa Branca. O meio pelo qual Trump fez as declarações foi, uma vez mais, a rede social Twitter.

Entretanto, a Alemanha reagiu e desmentiu categoricamente as acusações. O governo de Berlim afirmou não ter gostado das declarações de Donald Trump e reiterou que os alemães nada devem aos EUA, dado que o financiamento é para a NATO e não para os americanos.

Não se prevê uma relação amistosa entre estas duas superpotências ao longo do mandato de Donald Trump. As recentes trocas de palavras mostram dois países profundamente divididos quanto a determinadas questões de ordem económica que podem pôr em causa as relações entre ambos.

Reino Unido

A posição de Donald Trump relativamente ao Reino Unido tem-se limitado ao processo de saída deste país da União Europeia (Brexit). Até agora, o líder norte-americano fez poucas referências aos britânicos, porém, declarou-se a favor do processo de saída do projeto europeu, classificando-o como “uma coisa maravilhosa”.

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Foto: Getty Images

O presidente dos EUA continua a não ser muito claro na tomada de posição que terá em relação ao Reino Unido.

Em entrevista ao Financial Times, afirmou que o processo de separação pode ser benéfico para ambas as partes: “Acho que fizeram um trabalho melhor desde o Brexit”. Resta aguardar para saber o que Donald Trump fará acerca do Reino Unido.

França

Mais uma vez, Trump não abre o jogo. No entanto, a França é, atualmente, um caso particularmente especial no cenário da política internacional. As eleições legislativas são este ano e os candidatos já se começaram a perfilar.

O que Trump deixa transparecer é que a sua ação para com os franceses dependerá do resultado do escrutínio popular, que poderá ditar uma mudança no paradigma político francês.

A extrema-direita tem ganho força nas últimas sondagens e a simpatia de Marine Le Pen por Trump é assumida. Até hoje, não é conhecida nenhuma declaração do líder norte-americano relativamente a França.

Japão

No caso nipónico, a posição do presidente dos EUA tem sido contraditória. Donald Trump já fez questão de criticar a política comercial dos japoneses, que considera dificultar as vendas de produtos de origem norte-americana. O presidente americano afirma que o défice comercial dos EUA para com o Japão se deve a “bloqueios comerciais” e que os mesmos devem ser corrigidos.

Por outro lado, Trump já veio sublinhar os “profundos laços” que unem os dois países e que a relação entre ambos assegura a estabilidade daquela zona do Pacífico. Dias mais tarde, aquando do lançamento de mísseis por parte da Coreia do Norte, o presidente norte-americano reforçou o que disse anteriormente, realçando o “compromisso inabalável” para com o Japão.

Rússia

É sabido que a relação dos Estados Unidos com a Federação Russa foi sempre pautada por divergências de ordem ideológica, política e económica. Porém, ao longo da campanha eleitoral, Donald Trump mostrou-se disponível para melhorar as relações diplomáticas com a Rússia.

Foi na questão do combate ao Estado Islâmico na Síria que as duas posições mais convergiram, quando Trump afirmou que poderia aliar-se à Rússia para operações conjuntas contra o Daesh.

Foi também no setor económico que as diferenças mais se notaram em relação à administração Obama, muito crítica de Moscovo.

Em janeiro, o novo presidente dos EUA admitiu levantar as sanções recentemente impostas aos russos, por alegadas ligações dos serviços de inteligência do Kremlin às eleições norte-americanas.

Assim, Trump dá pela primeira vez a perceção de que a sua administração poderá virar-se para o estreitamento de laços com Putin.

Foto: Getty Images
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Em fevereiro, Donald Trump criticou, pela primeira vez, Vladimir Putin. As declarações foram feitas pelo porta-voz da Casa Branca e diziam respeito à situação ucraniana.

O presidente dos EUA deixou claro que a solução passa pela Rússia devolver a Crimeia à Ucrânia. No entanto, nas mesmas declarações, foi visível a intenção demonstrada pelo líder norte-americano de ter boas relações com o governo de Moscovo.

Deste modo, o presidente dos Estados Unidos reitera a sua viragem diplomática, ao tentar uma aproximação à Rússia. A única certeza é que esta decisão de Trump mostra ser polémica.

Nem mesmo na esfera do Partido Republicano há unanimidade na ideia de uma possível aliança com a Rússia num futuro próximo, pelo que as ideias de Trump podem mostrar-se difíceis de aceitar e de se concretizar.

China

O principal alvo de Donald Trump, tanto na campanha eleitoral como depois da tomada de posse, é a China. O presidente norte-americano insiste em afirmar que Pequim viola as regras do comércio e que, por isso, prejudicam a nação americana.

A troca de acusações entre ambos os países tem vindo a aumentar e o foco tem sido o comércio internacional e a política cambial. É de esperar, com estes fatores, que Trump endureça a sua posição política contra a República Popular da China, que considera ser um travão ao crescimento americano.

Outro dos pontos que mais semeiam discórdia entre os dois países é a questão de Taiwan. Donald Trump já ameaçou não reconhecer o princípio de “Uma só China” se não forem resolvidas questões de ordem económica, nomeadamente as acima mencionadas.

A China já respondeu, afirmando que espera que a nova administração respeite as posições dos governos em relação a este assunto e a imprensa chinesa chegou mesmo a afirmar que as declarações norte-americanas podem levar a uma guerra entre os dois países.

A posição de Donald Trump sobre os principais países do mundo tem tido avanços e recuos. O presidente dos Estados Unidos tem nas suas mãos o poder de tomar decisões que, inevitavelmente, poderão mudar o curso da diplomacia internacional, num mundo cada vez mais fraturado politicamente.