Nesta cidade ouvem-se muitas gaivotas. Às vezes são elas que nos acordam, outras vezes somos nós que acordamos antes delas.
Nesta cidade veem-se muitas crianças. Não sei se são elas que riem muito ou se somos nós que rimos com elas.
Nesta cidade encontram-se muitos avós. Dois avós por criança. Uma mão de cada lado, para ajudar a saltitar os degraus.
Nesta cidade há muitos autocarros. Não sei se sou eu que passo a vida neles ou se são eles que estão cheios de vida.
Nesta cidade há muitos engravatados. Não sei se são eles que andam zangados, porque o intervalo de almoço não chega para nada ou se sou eu que tenho demasiado tempo para almoçar.
Nesta cidade há muitas pessoas. E demasiadas estão com pressa. Sempre a olhar para o chão ou para o telemóvel ou para o relógio. Sem nunca verem as gaivotas, as crianças, os avós, os autocarros e os engravatados. Nesta cidade há demasiados bancos vazios.
Vem. Vem sentar-te comigo naquele banco. Vamos calar-nos uns minutos e apurar os sentidos. Achas que consegues?
(Escrito ao som de “Let’s be Still” dos The Head and the Heart)