É impressionante como André Ventura, afirmando constantes barbaridades, consegue ser mais comentado do que imensos jogos de futebol. Isto é algo impensável nos dias de hoje! Primeiro foi a intervenção de Ferro Rodrigues devido ao frequente uso dos termos “vergonha” e “vergonhoso”. Passado um mês, surgiram as recentes declarações, racistas e xenófobas em relação à proposta da deputada do Livre, Joacine Katar Moreira, sobre a devolução do património oriundo das ex-colónias em museus portugueses, entre muitos outros casos.
Apesar dos dois cenários terem o mesmo protagonista, têm contextos completamente diferentes. Os termos “vergonha” e “vergonhoso” são frequentemente utilizados na Casa da Democracia e o facto de ter havido uma intervenção de Ferro Rodrigues sobre este pormenor foi simplesmente ridículo. Embora seja um discurso irritante e pobre, faz parte da função de um deputado criticar a situação do país com recurso à adjetivação, mesmo que esta seja repetitiva. E não é apenas o André Ventura a fazer este tipo de discurso, infelizmente.
Porém, o caso com a Joacine foi bastante particular, chegando a ter sido bastante imoral e racista. Exigir que uma portuguesa de origem africana seja deportada vai contra os princípios éticos de qualquer profissão. Isso sim é vergonhoso. Neste caso, Ferro Rodrigues declarou que “declarações xenófobas” do deputado “merecem a mais veemente condenação”, apesar de esta não ser levada a voto parlamentar. Todos os partidos concordaram com a reprovação do deputado do Chega.
Lamentavelmente, existem casos infelizes na Casa da Democracia. Mas o mais problemático de tudo isto é o principal aspeto que têm em comum e que mencionei no início: André Ventura é o protagonista.
Com esta atenção toda, o deputado vai conseguir fazer crescer o seu partido. E, por outro lado, o Livre, que surgiu como completa oposição do Chega, tem uma situação interna tão dramática como se fosse uma telenovela.
As pessoas irão acreditar nas ideias de uma deputada cujo partido nem a apoia? Ou vão confiar nas palavras (embora racistas e xenófobas) de um deputado convicto, mas censurado por apenas mencionar os termos “vergonha” e “vergonhoso”?