Cultura

Rabo de Peixe: os portugueses chegaram ao charco dos tubarões

No passado dia 26 de maio, estreou uma das mais aguardadas séries portuguesas de 2023, “Rabo de Peixe”, com lançamento em exclusivo na Netflix. Com um ritmo acelerado, imagens de cortar a respiração e uma banda sonora que encaixa que nem uma luva, entrega tudo aquilo que prometia (e mais), necessitando de poucos dias para chegar aos tops da Netflix. Por Vasco Belo Reis.

No dia 6 de junho de 2001, o barco de um mafioso italiano, carregado com mais de uma tonelada de cocaína naufraga na ilha de São Miguel, vindo a droga a dar à costa. Assim começa um dos eventos mais marcantes na vida dos habitantes de Rabo de Peixe.

A série gira, então, em torno deste acontecimento verídico, apesar de contar com um grande acréscimo de ficção. Ao longo de sete episódios seguimos a história de Eduardo (José Condessa), um jovem pescador de Rabo de Peixe, vindo de uma família precária, que se vê embrenhado numa situação que podia mudar a sua vida. O pai (Adriano Carvalho) precisa de fazer uma cirurgia cara que lhe traga de volta a visão e Eduardo percebe que aquele incidente pode transformar-se numa forma de ajudar o pai.

Com o naufrágio, e com a perspetiva de uma nova hipótese na vida, a personagem principal, em conjunto com o seu grupo de amigos, Rafael (Rodrigo Tomás), Sílvia (Helena Caldeira) e Carlinhos (André Leitão), vê uma escapatória à sua sina.

Para alterar o seu destino, o grupo vê-se obrigado a enfrentar diversos mafiosos como o pai de Sívlia, Arruda (Albano Jerónimo), os italianos que perderam a cocaína, Bonino (Marcantonio del Carmo) e Monti (Francesco Acquaroli) bem como a PJ, composta pela inspetora Paula (Maria João Bastos) e inspetores Francisco (Salvador Martinha) e Banha (João Pedro Vaz).

Ao longo do caminho são apresentadas diversas personagens que irão ajudar o grupo de amigos a chegar a uma nova vida, como: Bruna (Kelly Bailey), filha de Banha, e Ian (Afonso Pimentel).

Toda a trama de “Rabo de Peixe” é narrada porJoe (Pepe Rapazote) – Uncle Joe para Eduardo – numa estranha mas cativante mistura entre português e inglês que nos ajuda a mergulhar ainda mais nestes sete episódios.

Filmada nos Açores e em Mafra, a série conta ainda com uma incrível imagem, uma banda sonora que nos faz viver o momento e um humor característico português, sem ser em demasia ao ponto de se tornar foleiro, 

A maneira como é retratada a vida em Rabo de Peixe faz-nos ainda repensar todos os nossos problemas, a sorte que temos por poder ter um futuro à nossa frente e não viver já com o destino traçado, como os habitantes daquela zona.

“Rabo de Peixe” procurou ainda adicionar elementos da cultura da vila que dá nome à série. Tal é o caso da inclusão do músico Sandro G (interpretado por Romeu Bairros), desta maneira é conseguido na perfeição a mistura entre realidade e ficção, adicionando à série um carisma muito próprio.

A série pode ser considerada uma grande surpresa, pela positiva, retratando de uma bela maneira os Açores e, provando que em Portugal também temos qualidade para atingir grandes palcos a nível cinematográfico mundial.

Com uma abrangência demográfica gigante, pode interessar a todas as faixas etárias. Variando entre a ação e o suspense, momentos de comédia e até a, de certa forma, uma nostalgia que este fatídico e insólito acidente pode ter suscitado na vida dos portugueses.

Augusto Fraga, mais conhecido por ser  realizador de publicidade, pode ter encontrado em “Rabo de Peixe” o seu pináculo criativo. O realizador e co-autor do argumento, nascido nos Açores, apenas começou a desenvolver o guião da série quando o concurso, que viria a vencer, foi aberto pela própria Netflix, vendo aí a sua oportunidade de se estabelecer no mundo das séries.

O “sonho da América”, muito referido ao longo de “Rabo de Peixe”, nasce da própria experiência de Fraga, que refere que essa ideia é algo que ele e muitos dos habitantes do arquipélago sentem, por ouvirem, desde pequenos, histórias do que havia para lá do Atlântico e que lhes impelia uma necessidade de explorar o mundo.

 É de visualização obrigatória para quem quer entrar um pouco mais no mundo da cinematografia portuguesa ou quem procura apenas uma série que o faça prender ao ecrã.

Artigo da autoria de Vasco Belo Reis