Ciência e Saúde

Indústria do Turismo promete mudar em prol do clima após COP26

Constituintes da indústria do turismo assinam declaração inovadora na COP26 para criar estratégias sustentáveis para combater as alterações climáticas. Por Domitilla Mariotti Rosa

A COP 26, conferência onde os representantes de diversos países se encontraram para discutir estratégias para combater as alterações climáticas, ocorreu nas duas primeiras semanas de novembro e terminou com compromissos entre países, organizações e indústrias. Um deles está presente no Glasgow Declaration on Climate Action in Tourism, que promete modificar a atual indústria do turismo.

A declaração foi assinada por mais de 300 partes interessadas da indústria do turismo, o que inclui cadeias de hotéis, companhias (como por exemplo a companhia ferroviária alemã Deutsche Bahn e o governo do Panamá), e organizações relacionadas, como a World Tourism Organisation, VisitScotland, Caribbean Hotel and Tourism Association, entre outras.

O objetivo da declaração é incentivar as partes interessadas a submeter um plano concreto e transparente de forma a reduzir para metade as emissões de carbono até 2030 e alcançar o “net zero” (consiste no estado onde os gases de efeito estufa na atmosfera são equilibrados pela sua remoção, até 2050). As partes que assinaram a declaração têm até 12 meses para planear e pôr em prática medidas que vão de encontro aos objetivos pretendidos.

A declaração, que é a maior em defesa do clima e do ambiente já assinada por constituintes da indústria do turismo (de acordo com Jeremy Smith, co-fundador da iniciativa Tourism Declares a Climate Emergency), é uma grande vitória para os defensores climáticos, visto que o turismo é extremamente prejudicial para o meio ambiente.

A Organização Mundial de Turismo realizou uma pesquisa, divulgada em dezembro de 2019, que previu o aumento de emissões relacionadas ao transporte no turismo em 25% até 2030, em comparação com os níveis de 2016. Os resultados obtidos mostraram a necessidade de uma abordagem consistente em relação às ações climáticas na indústria do turismo.

Além disso, conforme outra pesquisa, publicada em 2018 e realizada em conjunto pelas Universidades de Queensland e Sydney, a pegada de carbono da indústria do turismo evoluiu de 3,9 para 4,5 biliões de toneladas de CO2 entre 2009 e 2013. Esse número equivale a 8% das emissões globais de gases estufa, que aquecem o planeta. Elas ocorrem devido ao uso de meios de transporte, mas também ao consumo de bens e serviços, como comida, acomodação e souvenirs.

O estudo usou como base as experiências de cidadãos de 160 Estados que viajaram dentro de seu próprio país e para outros países. De acordo com o gráfico abaixo apresentado, os Estados Unidos têm a maior pegada de carbono causada pelos próprios cidadãos em território americano.

O azul representa viagens internacionais, enquanto o amarelo representa viagens domésticas.

FONTE: Lenzen et al. (2018)

 

Por outro lado, quando se verifica a emissão per capita, o pior resultado pertence às ilhas, como a Indonésia, Tuvalu e as Maldivas, cujo resultado se deve ao número de turistas internacionais que visitam estes destinos. Por exemplo, as Maldivas apresentam 95% de emissões ligadas ao turismo de não-residentes. Como consequência, os residentes do país já conseguem ver a elevação do nível do mar – o que causa a emigração de muitos e o aumento do número de refugiados climáticos no mundo.

FONTE: Lenzen et al. (2018)
FONTE: Lenzen et al. (2018)

O Asian Development Bank, cujo objetivo é ajudar no desenvolvimento sustentável da Ásia e do Pacífico, reportou que a República das Maldivas é o país “mais afetado pela mudança climática”, apesar de apresentar um dos níveis de emissão de CO2 mais baixos do mundo.

Com a diminuição das medidas preventivas contra o COVID-19 no mundo, muitos países procuram aumentar o turismo para recuperar o capital que perderam com a pandemia. No entanto, após a declaração assinada em Glasgow e com as pesquisas que comprovam os danos que o turismo causa ao ambiente e ao clima, será necessário que o façam com cuidado.

Como afirmou Patrick Child, Director-Geral Adjunto na DG RTD Investigação e Inovação na Comissão Europeia, ao NY Times, “precisamos de uma mudança cultural e precisamos ir além da mentalidade tradicional voltada para o crescimento para ver um ecossistema de turismo mais sustentável”.

Texto por Domitilla Mariotti Rosa. Revisto por Maria Teresa Martins.